"preparo um canto que faça acordar os homens e adormecer as crianças"


quinta-feira, 17 de junho de 2010

"Espaço é a acumulação desigual de tempos"

Só pra constar.
Na minha rua, Pereira da Silva - Laranjeiras, há algumas casas antigas. Meses atrás, começou a construção de um prédio de dois andares, entre duas casas. Ontem, reparei que há uma enorme placa cobrindo toda a paisagem da casa ao lado deste prédio. Essa casa já está completamente desgastada, velha, não tem mais condições e nem tinha moradores, faz tempo. Pois bem, onde eu quero chegar é: na placa enorme, está escrito assim, em letras bem grandes:
"A História do Rio ganha a sua."

Que? - pensa o morador da rua, como eu - o Rio ganha a minha história na medida em que vem alguma construtora, compra o terreno de uma casa super antiga para construir um prédio? O que que eu tenho a ver com isso? e mais: o que isso tem a ver com a história da rua, se esta está sendo demolida sem pestanejo?
Tem cada coisa que nego manda, que não tem como engolir... Cara-de-pau!

E o PS é que há uma casa habitada entre o prédio recém-construído e a casa velha. Imagina o que esses moradores não estão passando...quer quanto?

Obrigado obrigado

Após o período de hibernação intelectual, volto a anotar aquilo que reflito.

À convite de uma amiga, comecei a pensar sobre o famoso "obrigado". Foi então que resolvi, a partir da constatação do duplo sentido desta palavra, tecer um comentário sobre o duplo sentido da educação.
Todos os dias, o dia todo, nos vemos circundados de jeitos e trejeitos que não nos são próprios; são coletivos, apreendidos para o bem-estar social.
Em casa, a educação se confunde com boas maneiras e, na rua, as boas maneiras se confundem com as maneiras que outros consideram boas. É frequente você se pescar numa atitude impensada, gerada pelo inconsciente coletivo. Se você segura a porta para alguém, é natural que você ouça "obrigado", ou que você agradeça se ocorrer o contrário. É uma educação por osmose.

Muito longe da seleção natural de Darwin, o ser humano se aproria de símbolos e regras para possibilitar a sobreposição e a predação uns dos outros. O Capital e a Moral (além, claro, de Deus) são duas ferramentas importantíssimas para a manuntenção desse equilíbrio social desigual. Aquele que não tem educação regular (ensino) é logo posto a prova e, por meio do Capitalismo, privado de bem-estar material; aquele outro, que não assimilou aquela citada educação por osmose, ou seja, o mal-educado, é posto a prova não uma ou outra vez, mas sim todos os dias, por meio da Moral social vigente em cada canto do mundo. Se ele não cumprir aquilo que se espera dele como um cidadão "educado", é marginalizado gradativamente, cada vez numa escala maior.
Durkheim chamou isso de coerção social. A sociedade pressiona o indivíduo para que ele se adeque ao seu modo de ser. Indo além, pensemos também que o indivíduo, além de um ser social, é um ser live para mudar aquilo que lhe convém mudar dentro da sociedade, o que lhe permite subverter a Moral se assim desejar. E assim que devemos ser, na minha opinião: formadores de uma consciência capaz de subverter essa Moral amputadora de desejos.

Sem mais delongas. Quero só registrar aqui, o profundo incômodo que sinto quando percebo que as pessoas não enxergam que há outras possibilidades de se relacionar com seus desconhecidos (e mesmo com seus conhecidos) sem usar: sorrisos amarelos, responder "sei, sei", antes mesmo da pessoa terminar de falar, responder que entendeu sem entender etc, etc, etc.
Esse é o problema da educação por osmose, a Moral; sempre leva a pessoa a ser mais rasa e cínica do que ela é de verdade. É a generalização das relações.
Comecei refletindo sobre o "obrigado" obrigado. A obrigação de estar proliferando essa educação por osmose.