quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Parece fácil, mas é díficil
faz sabendo o que faz;
e faz o que faz por fazer.
Calmamente calmo
beleza de ser
a essência do ser.
Sendo ser que sem nome
nem dono,
nem corrente nem trono,
já sabe o como e o 'o que' fazer.
E o Homem cabeludo
tentando ainda velho entender o que é o acontecer da noite e do dia que vai nascer.
Entender, não viver.
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Separando o Homem da Natureza. Licença poética?
terça-feira, 5 de outubro de 2010
Cuidado Com!
A partir de agora, Cuidado Com! será o nome da "coluna" que tratará de assuntos que são poucos criticados, observados apenas superficialmente e que acabam por confundir a relação Homem x Natureza, e por conseguinte, a relação Homem x Homem.
Esta ideia é fruto da experiência que tive hoje, vendo o filme Lutero, o qual tive que passar para uma turma de 11 anos, 6ºano. Imagino que eles não têm a perspicácia para entendê-lo como um filme que trata da relação entre os homens...muito menos, para entendê-lo como um filme que trata, primordialmente, da relação do homem com seu passado e com a natureza. Pois é um filme que trata sobre Religião.
Religião, do latim religio - religar, consiste portanto, etimologicamente, em uma proposta na qual o Homem quer se religar ao divino, ao seu Criador, portanto o seu passado mais remoto.
Note-se que nem todas as religiões buscam Deus(es) fora de si. Algumas buscam se religar com a sua natureza animal; qualidades esquecidas no interior de um ser assolado por informações, longe dos animais, das águas limpas e das suas floras.
Alguns arriscam dizer que os Deuses surgiram a partir da Fome e do Medo do homem primitivo. A Fé surge da Satisfação da Fome. Eu arrisco.
Todos sabemos que a primeira fonte de alimentos, a primeira Mãe-do-Homem, que o presenteava todos os dias com sua Mesa-Sempre-Posta, é a Natureza. Era ela que sozinha protegia e alimentava os homens e, por isso, saciando nossa fome todos os dias, os Deuses estavam nela. Animais-deuses, relacionados a saciação da Fome direta (animal alimento) ou indiretamente (animal que vem na época da colheita - tido como aquele que traz o alimento ao homem primitivo, por exemplo), são encontrados na História. Ainda, seguindo a evolução do Homem com sua agricultura, surgiram Deuses relacionados à fertilidade do solo e à abundância das águas. A esses deuses eram oferecidos alimentos, festas, música. É a Fome impulsionando os primeiros cultos à divindades.
A mesma Natureza que alimenta também mata. O Medo do Homem de morrer como presa é o que explica a origem de Animais-deuses como o Urso, o Elefante e o Leão. Observa-se que os Deuses eram os próprios animais, com suas formas e qualidades. A esses animais eram oferecidos sacrifícios humanos e/ou de seus animais totêmicos (como pode se dizer da vaca na Índia, hoje em dia). Aí então, era o Medo que impulsionava os cultos. Nota-se que muitas vezes, os povos comiam os animais totêmicos e os Animais-deuses, afim de adquirir suas qualidades. Ainda hoje, nas Igrejas Cristãs, se come o corpo e o sangue de Jesus Cristo - o filho de Deus. Pensem nisso Cristãos. Ao Islã, lembro que o jejum é também um culto ao alimento, pois, privando-se dele, o Homem o valoriza. A origem animal de Deus, unificando qualquer corrente que possa haver.
Com as complexidades de relações, comunidades e sociedades, os deuses foram se antropomorfizando. O Animal-deus (leia-se a Natureza) não era mais quem trazia a comida ou oferecia o Medo. O Homem estava "a salvo" da Natureza. Podia suprir sua alimentação não mais tão dependente desta e suas cidades eram o abrigo contra os Animais do Medo.
Contudo, ó Homem!
Como diz Reclus, "o Homem é a Natureza consciente de si mesma" e, com efeito, o Homem reproduziu na sua Segunda-Natureza, construída para sua sobrevivência, as mesmas relações totêmicas e deificantes (ou divinizantes) que encontrou na sua experiência in natura. Chefes de Tribos, Reis, Imperadores e todo tipo de hierarquia baseada no Medo e no controle da Fome/alimentação são encontradas através dos tempos. Percebe-se logo que muitas são as semelhanças destes com os Animais-deuses de outrora. Chefes de tribos eram executados quando atingiam idade avançada e decaiam fisicamente. Onde a antropofagia era costumeira, estes Chefes eram refeição de um grande banquete, festejando os antepassados. Essa prática tinha como fim dar aos que comiam daquela divina-carne as qualidades dos Chefes. Imperadores e Reis são análogos aos Animais do Medo; para ambos, são oferecidos cultos, sacrifícios (não só de morte, mas de vida) e submissão, em troca da simples possibilidade de se reproduzir enquanto indivíduo, se protengendo atrás dos muros dos feudos ou das cidades. Além claro, da relação de controle alimentar em todas as sociedades hierarquizadas.
Na medida em que as sociedades vão se misturando e criando uma complexa rede de relações, a Religião - ou seja, a forma do Homem se (re-)encontrar com seu passado remoto, seu Criador, sua natureza - tambem muda. Ao invés de adorarem Animais-deuses, demonstrando a relação de submissão do Homem à Natureza, surgem Deuses com corpo-de-homem-cabeça-de-animal no Egito, denotando que, apesar de antropomorfizado, o Homem respeita a sabedoria da Natureza, representada pela cabeça-de-animal. Posteriormente, na Grécia, encontramos Deuses com feição totalmente humana, porém que manuseiam a Natureza como forma de poder (o raio de Zeus e os mares de Poseidon), o que ainda aponta para um respeito às forças da Natureza. Ainda na Grécia observa-se uma transição interessante: os Deuses se misturam e geram filhos com os Homens. Aí então, o Homem toca Deus e dele surgem outros homens, os semi-deuses. Porém, os Deuses do Monte Olímpo, (que não estão no Céu, note-se) não tocam os Homens com suas formas originais, tornam-se animais, ideia facilmente inteligível quando se tem em conta que na phísis grega, toda Natureza é Deus e é representada pelas figuras do Olímpo. Hércules. por exemplo, nasce do contato de uma mulher com uma pomba. Será que é daí que surgem as virgens que dão origem aos Profetas Jesus e Maomé, por exemplo? Talvez, não? Além de Hércules, outros exemplos de outras partes do mundo podem ser encontrados em pesquisa. Entenda-se que esse suposto sexo entre animais (Deuses transformados) e homens, não necessariamente se deve ao ato sexual. O sexo é uma relação que visa a reprodução de certa espécie. O homem que domina a reprodução da planta, tem uma relação sexual com ela para garantir sua alimentação. Ainda, ratificando a co-evolução entre sociedade e ideia de Deus, nota-se que é na Grécia, sociedade onde nasce a filosofia e o Homem é objeto de adoração, surge Deuses relacionados aos sentimentos humanos, como Afrodite - a Deusa do Amor, e Ares - o Deus das Guerras, da Sede de Sangue e da Matança. Isso deixa claro que, uma vez que está sendo construído, lapidado, o entendimento da Natureza Humana, está se construindo também Deuses para "justificar", simbolizar esta demanda intelectual e social de compreensão.
A completude desta transição na qual Deuses e Homens se misturam se dá quando o mundo judaico-cristão, conquistador de territórios, deturpa a phísis grega, tira os Deuses da Natureza, da Terra e colocam-no, Monoteisado, no Céu. Pronto, agora "Deus" está no Céu, mas a Ideia de Deus permanece no Rei, como já dito antes, caracterizando a fusão de Deus e Homem. O Homem é o prórpio Deus, que pode interferir na Natureza à sua vontade. Parece familiar?
Finalizando, sem aprofundar tudo o que poderia, enfatizo que a Religião não passa de uma forma do Homem se (re-)encontrar com seu passado remoto, seu Criador, sua natureza homo sapiens e portanto é um reflexo direto da relação inicial, da relação Homem x Natureza.
A compreensão da origem animal de Deus(es) torna inconveniente qualquer desavença entre as diferentes correntes religiosas. Todas, metaforicamente, ainda estão cultuando o passado remoto do Homem, e agradecendo aos antigos, nossa sobrevivência.
Cuidado Com! isso Religiso! E você que não é adepto a esse termo por ter sido muito alterado em seu sentido Homem x Natureza original, busque se (re-)encontrar com nossa natureza e, mesmo que não diga para se preservar, se considere um Religioso da mais crítica e analítica vertente do termo.
BASE DO TEXTO: A ORIGEM ANIMAL DE DEUS - FLÁVIO DE CARVALHO, 1973.
(DES)CAMINHOS DO MEIO AMBIENTE - CARLOS WALTER P. GONÇALVES - 1989.
GEOGRAFIA UFF.
!!LEIAM ESTES LIVROS PARA APROFUNDAR ESSA IDEIA!!
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Impérios e Colônias - Idades
Um filme foi o início de tudo. Baseado na obra de Darcy Ribeiro, "Povo Brasileiro" é o nome do filme. Nele são discutidos diversos aspectos dos "povos brasileiros". Sobre o Nordeste, um sociólogo analisa que as instintuições Família, Propriedade, Modo de Produção e Estado ainda podem ser classificadas como Medievais!! No século XXI, o Brasil, país emergente, promissor no cenário mundial ainda conta com o suporte de uma Região medieval na sua geopolítica.
Daí então, pensamos: poucas são as áreas onde se pode classificar Idade Comtemporânea. E o que classificaria a Idade Contemporânea? Bom, para nós seria: Comunicação e Tecnologias. A Idade Contemporânea, embora tenha sido marcada pela queda do Poder Absoluto em parte da Europa, manteve nesses países a simbologia extremamente conservadora; as monarquias e as cerimônias são marcas de uma sociedade conservadora que é acostumada a ser submissa à leis e regras que foram criadas de acordo com as necessidades vitais de sua nação e/ou Estado. É necessário que haja uma referência para seguir, uma figura; é a sociedade paternalista europeia - diferente do paternalismo violento transplantado na América-Latina. Como se sabe, ainda hoje há monarquias, principados e o Vaticano, uma ilustre monarquia absoluta teocrática! Portanto, a mudança na forma de governo, não é o fator ou categoria mais relevante no que diz respeito às mudanças implantadas com a Revolução Francesa.
A utilização dessas categorias para entender as diferentes instalações da Idade Contemporânea no espaço, se dá porque acho que a partir da Rev. Francesa esses foram os setores que mais rápida e intensamente mudaram os modos de vida, subsistência e poder. Talvez, inclusive, já seja a hora de pensar num novo período histórico, iniciado com a trilogia das Revoluções Industriais; essas sim, através das novas tecnologias de Comunicação e das novas Tecnologias alcançadas em todas as ciências, impuseram e impõe continuamente por parte das potências, uma demanda sempre diferente. Para a sociedade se adequar ao Capitalismo e mais ou menos vice-versa.
Ao fim da discussão, essa foi a imagem que pensamos poder definir onde está a Idade Contemporânea através das categorias Comunicação e Tecnologias:

Onde há luz, há Idade Contemporânea em diferentes níveis de importância dentro do sistema e ainda assim, confundida com outras Idades, como é o caso da Índia, Sudeste Asiático e Nordeste brasileiro.
Onde não há, a Idade Contemporânea é uma ilusão carregada pelos meios de comunicação e que só se faz presente no entendimento sistêmico de interdependência do Capitalismo.
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Impérios e Colônias
Mas estava lá conversando com uns amigos de um amigo meu, quando um deles pega um maço de dinheiro, cheio de nota de R$50 e fica posando, andando gostosão, de boné, pa...de repente ele pega uma mão cheia de moedas e joga na areia...
QUE!?!
é impressionante como a noção, a concepção de pobreza e o tratamento do seu dinheiro, independentemente de classe, muda quando você é de diferentes cidades. Eu moro numa cidade grande e rica, onde todos do mundo querem estar... e num jogo dinheiro fora não!! ainda peço meu 1 centavo de troco!! o moleque lá nos cafundéus, tirando onda com um dinheiro que deve ir tão rápido como veio, ao invés de dar ou usar, não..joga fora!! se morasse aqui, nunca. Ele tirava onda como achava que os moleques aqui do Rio fazem, "imitando" os cariocas...calma aí amigo, tem mais carioca pedindo do que jogando fora!
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Criânsias e Experiências
Fizemos um passeio de barco do Iate Club - Urca , até o Museu da Marinha - Centro, e claro, fomos pela Baía de Guanabara.
As crianças tinham entre 7 e 11 anos e me fizeram pensar muito sobre o Paradoxo da Experiência, citado no texto abaixo.
Estava rodeado de três crianças, Patrick, muito inteligente, Ana Carolina, minha cheirosa e a Mariana, que ainda vivia no mundo encantado.
Na Baía, eu explicava ao Patrick, a importância dos fortes na proteção da cidade do Rio, contra franceses e holandeses.
eu : Então, se não tivesse aquilo, a gente poderia falar francês...
P : Se os portugueses perdessem a guerra ne?
eu : é... - Mariana me cutuca..
M : Tio, tio..Aquilo não é o Pão de Açúcar; no mundo encantado é uma montanha de doces..
eu : ...mas hein Patrick, os barcos vinham dali e ali era...
M : Tio, tio!!
eu : ...
M: Aquilo não é um avião, é um avião de doces!!
eu : Tu tá querendo um doce em Mariana...
A.C : Eu tenho um aqui, se quiser...
M : não, não quero não....
eu : Tem certeza???
os olhos brilharam
M : tá bom!
eu : ...e ali é a Ilha Fiscal, Patrick, onde o príncipe do Brasil fazia festas...
me cutuca, "Tio! tio!!" eu finjo que não senti, e seguiu "Tio, tio!!" - que Mariana?
M : - No mundo encantado esse castelo é da princesa e do rei dos doces e ele é feito de doces e cheio de doce dentro!!
E eu penso quando que o mundo deixa de ser encantado..
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Criânsias e Experiências
Eu, que nunca havia participado de uma, me empolguei em ter a oportunidade de conviver por 4 dias com crianças diferentes das que eu trabalho geralmente, na EDEM.
O frio na barriga passou logo que eu lembrei que criança, em qualquer lugar, é criança; pode ser rica, pobre, quieto ou bagunceiro, tem alguma coisa lá dentro que se for cutucada, dá sorriso.
Na verdade não tenho nada em especial para escrever, visto que já faz um certo tempo e não lembro dos pequenos acontecimentos que me fizeram um Tauã novo. Novo não....mais novo.
A clássica ideia de que queremos ser adolescentes, adultos e depois criança é impressionante. O Paradoxo da Experiência, como eu chamo pra mim mesmo essa loucura que a vida prega. "Aah se eu soubesse que as meninas de 13 anos são mais descoladas que os meninos!"'... "Ah se eu não tivesse medo de dormir na casa dos meus amigos!" como podíamos ter aproveitado ne...
Depois que acabou e o cansaço passou, eu voltei a pensar na colônia e cheguei a conclusão que há dois tipos de aprendizado (no mínimo do mínimo) entre crianças e adultos: um é o que as crianças aprendem, que é o Aprendizado Social, no qual o adulto ensina pra criança aquilo que ela deve saber para conviver bem nas regras sociais e sobreviver (não ser atropelado por ex.); um aprendizado pragmático e temporal, pois crianças crescem e transformam valores aprendidos. O outro, atemporal e filosófico e, por isso, apenas apre(e)ndido pelos adultos, é o Aprendizado da Vida. Não tenho um nome melhor. Mas o que seria isso? Percebemos nas crianças e pessoas mais novas em geral, que a vida é e foi. Não será, pois o futuro somos nós. Para eles, eles serão como a gente. E eu sei que serão. Podem ser melhores, diferentes aqui e acolá, mas as ânsias e emoções são universais, distribuídas em cada um num certo grau. Então, quando percebo que aquela criança se parece nisto ou naquilo com o antigo Tauãzinho, penso: "o que mudou em mim? por que? e mais! quando mudou? Tomara que se conserve nele".....ilusão, ignorância à roda-viva.
O é da vida é doce,
carpe diem;
o era, amargo
melancolia;
o será, será,
dia-a-dia
quinta-feira, 17 de junho de 2010
"Espaço é a acumulação desigual de tempos"
Na minha rua, Pereira da Silva - Laranjeiras, há algumas casas antigas. Meses atrás, começou a construção de um prédio de dois andares, entre duas casas. Ontem, reparei que há uma enorme placa cobrindo toda a paisagem da casa ao lado deste prédio. Essa casa já está completamente desgastada, velha, não tem mais condições e nem tinha moradores, faz tempo. Pois bem, onde eu quero chegar é: na placa enorme, está escrito assim, em letras bem grandes:
"A História do Rio ganha a sua."
Que? - pensa o morador da rua, como eu - o Rio ganha a minha história na medida em que vem alguma construtora, compra o terreno de uma casa super antiga para construir um prédio? O que que eu tenho a ver com isso? e mais: o que isso tem a ver com a história da rua, se esta está sendo demolida sem pestanejo?
Tem cada coisa que nego manda, que não tem como engolir... Cara-de-pau!
E o PS é que há uma casa habitada entre o prédio recém-construído e a casa velha. Imagina o que esses moradores não estão passando...quer quanto?
Obrigado obrigado
À convite de uma amiga, comecei a pensar sobre o famoso "obrigado". Foi então que resolvi, a partir da constatação do duplo sentido desta palavra, tecer um comentário sobre o duplo sentido da educação.
Todos os dias, o dia todo, nos vemos circundados de jeitos e trejeitos que não nos são próprios; são coletivos, apreendidos para o bem-estar social.
Em casa, a educação se confunde com boas maneiras e, na rua, as boas maneiras se confundem com as maneiras que outros consideram boas. É frequente você se pescar numa atitude impensada, gerada pelo inconsciente coletivo. Se você segura a porta para alguém, é natural que você ouça "obrigado", ou que você agradeça se ocorrer o contrário. É uma educação por osmose.
Muito longe da seleção natural de Darwin, o ser humano se aproria de símbolos e regras para possibilitar a sobreposição e a predação uns dos outros. O Capital e a Moral (além, claro, de Deus) são duas ferramentas importantíssimas para a manuntenção desse equilíbrio social desigual. Aquele que não tem educação regular (ensino) é logo posto a prova e, por meio do Capitalismo, privado de bem-estar material; aquele outro, que não assimilou aquela citada educação por osmose, ou seja, o mal-educado, é posto a prova não uma ou outra vez, mas sim todos os dias, por meio da Moral social vigente em cada canto do mundo. Se ele não cumprir aquilo que se espera dele como um cidadão "educado", é marginalizado gradativamente, cada vez numa escala maior.
Durkheim chamou isso de coerção social. A sociedade pressiona o indivíduo para que ele se adeque ao seu modo de ser. Indo além, pensemos também que o indivíduo, além de um ser social, é um ser live para mudar aquilo que lhe convém mudar dentro da sociedade, o que lhe permite subverter a Moral se assim desejar. E assim que devemos ser, na minha opinião: formadores de uma consciência capaz de subverter essa Moral amputadora de desejos.
Sem mais delongas. Quero só registrar aqui, o profundo incômodo que sinto quando percebo que as pessoas não enxergam que há outras possibilidades de se relacionar com seus desconhecidos (e mesmo com seus conhecidos) sem usar: sorrisos amarelos, responder "sei, sei", antes mesmo da pessoa terminar de falar, responder que entendeu sem entender etc, etc, etc.
Esse é o problema da educação por osmose, a Moral; sempre leva a pessoa a ser mais rasa e cínica do que ela é de verdade. É a generalização das relações.
Comecei refletindo sobre o "obrigado" obrigado. A obrigação de estar proliferando essa educação por osmose.
terça-feira, 9 de março de 2010
Nikit City Stories apresenta:
Uma feijoada comemorativa de um chá de panela, foi lá que tudo aconteceu.
O dia estava ensolarado, os amigos felizes, bebendo, comendo e dançando. Após a comilança, a noite caia e as nuvens negras galopavam com pressa no céu. Não tardou uma latinha de cerveja para o céu azul dar lugar ao exército negro acima de nós. Alguns dizem que esse foi um sinal, e que dali em diante tudo já estava predestinado. Quem sou eu pra dizer...
Depois de muita festa resolvi deitar-me num dos quartos. Estava quieto, quase caindo nos ermos cantos da mente, fugindo da razão. De repente, num susto e num pulo, ouvi do lado de fora do corredor:
-Vam'bora!! que que tem aqui?! vam'bora!
-Calma moço, só tem estudante aqui, num tem nada de valor na casa...
Meu coração correu! Olhei pela janelinha da porta do corredor e vi apenas, como num enquadramento feito com duas mãos, dois amigos de mão para cima, um pertinho do outro. "Pronto! estão assaltando a casa, não acredito! que isso, que viagem" - aí, olho novamente e os vejo rindo. "Ah, que susto, é só brincadeira", e resolvo sair. Vou colocar a mão na porta, e sair do quarto quando ouço do outro lado da parede:
-Bora porra, tira logo da tomada, que que tem mais por aqui?
e do outro lado, na porta para o corredor, ouvia outras vozes:
-Moço, acalma ele lá, ele tá nervoso, tem mulheres ai, não tem por que machucar...
Nesse meio tempo eu tranquei a porta e voltei a deitar, quietinho, sem mover um músculo sequer. Só ouvindo e imaginando filme de terror protagonizado pelos meus amigos.
No final dessa loucura, ouvi da janelinha, aquela do corredor, a ideia que mexeu e vai ficar comigo pra sempre, enquanto eu quiser lutar pelo bem:
-Então, ninguém vai dar queixa não né, não exculachei ninguém, exculachei? Não exculachei, não xinguei...Isso aqui é nosso trabalho, nossa correria. Vocês têm pai têm mãe, têm oportnuidade, têm dinheiro. A gente não tem oportunidade, temos que fazer isso, é nosso ganha pão, nosso trabalho tá ligado, nossa correria.
E outro completou:
-Vai, dinheiro e celular, coloca aqui todo mundo!
...
...
Saí do quarto e vi as caras dos meus amigos. Depois me contaram o que eles viram. Sorte que eu só ouvi.
3º ano = confusão
Pois outro dia, após inúmeras tentativas de uma explicação óbvia, me veio à frente, uma demonstração exemplar do efeito profundo que o 3ª do ensino médio, o fatídico ano do vestibular, exerce nas cabeças confusas dos vestibulandos.
Eu estava lá na lapa com o Lourenço, quando encontrei umas amigas mais novas, que estão justamente nesse ano tão importante para o sistema educacional brasileiro.
Daí, elas, que já estavam mais pra lá do que eu, conversavam sobre tudo comigo e trocavámos ideias diversas, muito, muito longe do vestibular. Foi quando perguntei a uma delas, sobre o resto da noite:
- E aí, vai fazer o que?
e ela responde sem pestanejar:
-Comunicação na UFRJ, Artes Cênicas na UNIRIO e acho que Cinema na UFF! Você tá fazendo Geografia né?
Eu falei - é...- ri dela e fiquei pensando...
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Computador, cabeei!
A necessidade de babás se torna mais frequentes, enquanto os pais trabalham fora; porém mesmo quando estão em casa, a relação não se torna plena, até mesmo pelo costume de a criança - ou jovem - lidar constatemente com a máquina.
Cada vez mais, o computador é utilizado como educador, ou meramente como uma fuga.
As marcas lançam máquinas e programas para "atender" - ou seduzir - esse mercado que, inocentemente, enxerga apenas o lado bom, do momento, da brincadeira e praticidade. Porém cabe aos pais, decidir até que ponto essa dependência diária do computador é salutar para a formação cognitiva e social da criança, embora a partir de certa idade já se torna responsabilidade também de cada um, perceber as diversas implicações negativas do uso intensivo da máquina.
Os avanços do homem tecnófilo que tanto ajudam a acomodá-lo, se mostra exagerado nessa situação, e, o comodismo (da praticidade) que "vem para colaborar", acaba atrasando e traindo seu objetivo: o computador atrofia o conhecimento do homem pelo homem; não há olho no olho. Imagine a dificuldade do jovem que cresceu de cara para a tela, isolado num mundo fantástico, de compreender a maldade, a perspicácia embutida no ser humano.
Bocejo
O bom-humor, dentro da sociedade rígida e julgadora do séc XXI é como um bocejo: despretencioso e contagiante, impondo-se ao mau-humor que impera. Essa qualidade faz dele o combustível principal de uma boa relação: seja no trabalho ou até num jogo.
Repare: o bem-humorado pode não ser um bom-jogador, mas certamente será mais vituoso, pois será um bom-perdedor e saberá respeitar e quiçá curtir a felicidade dos ganhadores.
O bem-humorado tem maior chance de subir na vida; o sorriso e o desapego à melancolia facilitam as ideias, a conversa construtiva e põe a pessoa numa abertura convidativa aos outros, conhecidos ou não!
uuuuaaaaaaaahhhhhhh...
...Namarola...
altura e lagura
anarquia ou ditadura
nada existia de onde eu vim.
Eu vim de lá...
Onde importava estar,
crescer
e me alimentar
Vivo agora no centro de um furacão,
vários no chão
ninguém olha pro lado,
ninguém estende a mão.
Nove meses de calmaria,
uma vida de confusão!
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
O Alien
a.li.e.na.ção
sf (lat alienatione) 1 Ação ou efeito de alienar; alheação. 2 Cessão de bens. 3 Desarranjo das faculdades mentais. 4 Arrebatamento, enlevo, transporte. 5 Indiferentismo moral, político, social ou mesmo apenas intelectual. Antôn (acepção 5): engajamento, participação. A. mental: loucura.
Em 4010, arqueólogos encontraram vestígios do que seria a moradia de um ser que viveu há cerca de mil anos antes. Um ser que parecia uma evolução do homem, algo parecido com o homo sapiens sapiens, mas que possuía traços até então decohecidos: dedos grandes, olhos grandes e cabeção.
O tempo passou, novas descobertas...até que um celébre arqueólogo descobiriu uma máquina muito difundida entre aqueles seres, que ele chamou de computador. Com as pesquisas ele percebeu que o computador era indispensável a vida deles.
O tempo passou, novas descobertas...até que um celébre biólogo retomou a teoria da evolução de Calvin, que se consistia no processo de Seleção Natural.
Pronto, foi só juntar o tico e o teco e a ciência percebeu que os "novos seres" eram meramente uma evolução do homo sapiens sapiens provindo da Seleção Natural. Estava explicado. Eles não viviam sem o computador, logo, sobreviveram aqueles que tinham mais facilidade para com ele.
Os dedos, segundo descobriram, servia para teclar, ou digitar, como a ciência chamou; os olhos grandes serviam para aturar horas a fio em frente a máquina sem causar prejuízos; o cabeção, como foi consenso pelo corpo científico, servia para armazenar as trocentas informações que a máquina passava ao mesmo tempo sem dar curto circuito no cérebro das criasturas. O corpo deles era uma verdadeira máquina para a máquina computador. Viviam disso.
Esse processo de evolução interessantíssimo observado pelos cientistas de diversas áreas foi chamado, após muita discussão e finalmente consenso, de ALIENAÇÃO. Pois está claro, a transformação de homo sapiens, para o que eles chamaram homo aliens.
Alienação em 4010:
1 Processo evolutivo de transformação específica (de espécie); de homo sapiens sapiens (homem) para homo aliens, ou alienígena.
Pensemos! Não nos deixemos evoluir pela máquina! não alienemo-nos!
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
Criânsias e Experiências
Pois estava eu lá sentado pronto para começar, apenas esperando as crianças entrarem e se acalmarem. De repente um moleque, com algum grau de altismo e um alto grau de criatividade, começou a abaixar o short! do meu lado! e eu, como educador e responsável disse "Põe esse short moleque! tu não tá em casa, tu já é grande, vê se tem alguém sem calça aqui..." e todas essas coisas que quem foi aluno conhece. Ele me respondeu naturalmente, sem pestanejar "Monstro não usa roupa!" - MONSTRO NÃO USA ROUPA! - o que eu ia fazer diante disso? ia dizer a ele que não era monstro, ia usar a força...não tinha o que fazer além de rir! e ele continuou, tirou a cueca e ficou lá, peladão na sala, deitado de bunda pra cima, e eu dizendo "ei moleque, sai dai, todo mundo te vendo pelado, tu com o piru no chão sujo", tentando ao menos garantir a saúde do monstro. Nesse meio tempo a turma toda já tava gargalhando, apontando, gritando, enfim!
Entra a professora e vê tudo. Entende que não é dizendo a ele que ele não é um monstro que iria controlar a situação...afinal ele é um monstro, se ele quer ser...é criança, quem dirá que não é?!
Pois ela diz então "quer ficar pelado? então vai ficar pelado o dia inteiro, vou guardar sua roupa lá na sala!" Daí eu achei, iiiih, agora ele vai começar a gritar, querer pegar a roupa...que naaada!! o moleque continuou tranquilão, com o bingulim balangando, todo mundo olhando e ele nem aí. Daí a professora saiu e ele foi atrás, pra ela não ligar pro pai...
A gente cresce, "amadurece" e esquece a pureza, nega a criatividade com medo ser apontado, com medo não ser normal, de não estar na norma. Norma essa que foi forjada senão pelos outros. Façamos das normas, as nossas criatividades, as nossas liberdades e vontades verdadeiras, puras. Sejamos por fim, todos grandes monstros! com ou sem roupa.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
O Haiti não é aqui
No início do show, assim que eu entrei e olhei para a direita, onde estavam as sacolas com alimentos (na sua maioria, água), vi um cara dando um golão cheio de desejo numa das garrafas. Um cara com a camisa da organização. Será que ele comprou aquela água? Ou será que ele é haitiano?
No fim do show, os meninos de rua da lapa começaram a saquear os alimentos. Óóóó!! que surpresa! como ninguém tinha pensado nisso! as pessoas começaram a se mobilizar pra retirar as sacolas dali e evitar que roubassem. Evitar que nossos vizinhos, vítimas diretas do nosso modo de vida, do nosso egoísmo, comessem, em favor de garantir (OU NÃO) a chegada desses alimentos até a boca dos haitianos.
Quando será que os mendigos da lapa merecerão um show beneficente?
O Haiti, infelizmente, não é aqui.
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
Eles também marolaram um dia
Machado de Assis
"Quem sabe que conselhos vou inventar...
e que atalho seguirei para não segui-los"
Mario Benedetti
"Um dia desses,
eu separo um tempinho
e ponho em dia todos os choros
que não tenho tido temo de chorar"
Carlos Drummond de Andrade
"Para que se preocupar com o amanhã,
se ele acaba depois de amanhã?"
Pica-Pau
"Dia a dia mudamos para quem
Amanhã não veremos.
Hora a hora
nosso diverso e sucessivo
alguém
desce uma vasta escadaria
agora."
Fernando Pessoa
...Namarola...
2008! às vezes faz sentido, às vezes não! haha
Impérios e Colônias
- Boa tarde moço, sabe me dizer se vocês fecham amanhã?
- Não senhor, não fechamos não senhor.
Lá foi o carioca pra casa. No dia seguinte, 17:00 tava ele contando o dinheiro pra comprar o ingresso. Quando ele olha, o cinema fechado. Ele não entende nada, fica puto e vai falar rispidamente com o o guichê, que agora estava limpando as portas:
- Ué moço! O senhor disse ontem que não iam fechar hoje!
calmamente o português responde lúcido:
- Ora, ué digo eu moço, o senhor perguntou se nós fechamos hoje, pois me responda agora: como vamos fechar se nós nem abrimos!?!?
essa é verdade!!
Impérios e Colônias - Pensando o etnocentrismo
Colombo e os seus passam a negociar e trocar com alguns grupos indígenas. É claro que essas trocas enredavam ainda mais os nativos nos interesses espanhóis. Porém, os grupos que não estavam para acordos, foram vítimas de etnocídio, limpeza, matança indiscriminada, finalmente o cúmulo da arrogância etnocêntrica!
Eis o primeiro contato do homem branco com a América (há controvérsias). Marcado primeiramente pela indiferença à cultura, depois pelo controle e, ao cabo, pelo genocídio, que, nesse caso, marcado de etnocentrismo, chamo confortavelmente de etnocídio.
Hoje em dia, a Europa (ocidental sobretudo) permanece agredindo os setores sociais majoritariamente estrangeiros, como pobres e migrantes (não-UE), mesmo que esses migrantes venham de suas (ex-)colônias. E por que? De que adiantou tantas ideias, tanta filosofia no Velho Mundo? Será que para buscar novas formas de autorizar essa agressão? Será que para atenuar a obviedade da agressão? porque hoje se agride com dinheiro, com capital. Ficam sem comer lá porque comem demais acolá, enfim.
Enfim.
Impérios e Colônias
Eles passam por um irlandês típico: gordo e avermelhado; o pai pergunta sobre o melhor caminho para a cidade. O portug...o irlandês responde:
- Não sei não, opá.
Então eles seguem. Logo o homem grita:
-Ei ei!! Calma, calma! - ele corre atrás esbaforido
O carro dá ré:
-Ah, moço, brigado, sabe nos dizer?
-Ora pois, perguntei ao meu amigo aqui e ... - ele mal consegue falar
-Eee...?
-...ele também não sabe!
!!
Bem, o que fazer né? seguiram viagem, sem saber pra onde.
Adiante, entraram numa padaria. No balcão estava outro homem da terra, outro irandês típico: barrigão de fora, bigode, espantando as moscas com o pano.
- Pois não, senhor, boa tarde. Sabe nos dizer como chegamos até New Ross de carro?
Ele pensou, enrolou o bigode, franziu a testa, pensou e respondeu:
-Olha, eu se fosse você não começava daqui não!
Já começo a trabalhar, antes mesmo do café. Bem, trabalho faz parte, mas o pensamento do dia, que martelou a minha cabeça até criar calo, foi sobre a palestra que a equipe pedagógica assistiu.
Ralph era o nome do cara, inglês, filósofo, professor da PUC-Rio, a palestra era mais ou menos "Educar no contexo do pensamento contemporâneo". Daí tava eu lá, operando o equipamento necessário e, claro, de ouvido bem aberto.
A questão era, principalmente, sobre as dificuldades dos educadores de uma escola que "nasceu com o pensamento alternativo" (palavras de toda a equipe) de se adequar a esse tipo de ensino majoritariamente mercantil, no qual os pais põe seus filhos na educação infantil perguntando sobre os resultados de vestibular. Estranho ne. Mas o que me incomodou e me emocionou foi perceber quão difícil é para eles, elaborar uma estratégia para que esse colapso no pensamento comece - comece - a ruir. Como lidar com esse pai? Como mediar os interesses da demanda e do ideal? Como, quando e para onde podemos expandir nossa resistência? Vale se arriscar?
Diante dessas perguntas, tantas e sem resposta, eu pensei "e tudo o que eu vivi aqui surgiram de dúvidas e não de certezas? isso não é em si, o risco? e porque não o risco?".
Não levo nas costas o peso de culpa da situação de ninguém e muito menos da sociedade, mas levo pra qualquer lugar o peso da responsabilidade de, mostrando o que eu penso, e pensando o que me mostram, trocar, mudar e ser mudado, sem vergonha de admitir que isso é necessário tanto a mim quanto a você.
Educação é minha paixão, é o nosso futuro...vivo e aprendo sem medo de errar.
Acabou nada a ver com nada...escrevendo por refletir